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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Árvores centenárias ajudam no resgate histórico ambiental e na criação de políticas sustentáveis

Jochen Schongart, especialista em dendrocronologia
Entrar numa área de várzea ou igapó na floresta amazônica e identificar árvores com quatro ou cinco séculos de existência provoca uma atitude de reverência no doutor Jochen Schöngart, 44. Especialista em dendrocronologia, método usado para estabelecer a idade de uma árvore baseada nos padrões dos anéis dos seus troncos, Jochen, que é pesquisador do projeto Max Planck do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), já encontrou espécies com mais de 500 anos. Entre as mais antigas já registradas, ele cita o Arapari, Tauari Vermelho, Castanheira e Piranheira. Em casos excepcionais, há exemplares de mais de mil anos.
No último dia 8, no Ciclo de Palestras do Museu da Amazônia (Musa), Jochen revelou a importância de se conhecer a idade das árvores. Ao explicar que nas informações gravadas no interior dos troncos, nos chamados anéis de crescimento, conhece-se o passado de ocorrência como grandes cheias ou secas rigorosas ocorridas nos rios amazônicos.
Arquivos
Essas são informações importantes para o homem da região, que pode, por exemplo, saber quais as espécies com maior capacidade de crescimento em determinada área. “Pode parecer uma coisa trivial conhecer a idade das árvores, mas na verdade é informação relevante no momento em que temos uma demanda para gerar informações destinadas a melhorar a conservação da floresta em pé, considerando os serviços ambientais oferecidos pela vegetação”, argumenta o pesquisador. Ele cita que esses estudos mostram a opção de manejar os recursos madeireiros, contribuindo ainda para fazer modelos de crescimentos para espécies madeireiras comerciais, definindo ciclos de cortes mais adequados. Há, inclusive, pesquisa do projeto Max Planck premiada por conseguir definir como derrubar uma árvore conforme seu crescimento, o que acabou gerando uma Instrução Normativa em novembro de 2010 pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Sustentável (SDS) no Amazonas.
Jochen faz pesquisas em várzeas, com águas brancas como as do rio Solimões e nos igapós, onde as águas são pretas, do rio Negro.
Segundo ele, a literatura diz que a temperatura seria fator principal de formação dos anéis no interior dos troncos das árvores, mas aqui no Amazonas, onde a temperatura não varia muito, é sempre chuva ou seco, é possível observar a reação das árvores de terra firme, por exemplo, às épocas chuvosas e secas. Nesta última, as árvores têm um crescimento menor, ao contrário da estação chuvosa. Os anéis de crescimento das árvores apontam a importância do ciclo hidrológico, observa o especialista.
Estudos são a base para legislação
Foi a partir de estudos desenvolvidos por Jochen Schöngart,  e outros do projeto Max Planck e Inpa, e da necessidade de definir padrões específicos para o manejo florestal sustentável em áreas de várzea que levaram a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (SDS) a estabelecer critérios para elaboração, execução e licenciamento de planos de manejo florestal sustentáveis.
A instrução, destinada a áreas de várzea, inundáveis com alagação de água barrenta (branca), estabele o ciclo mínimo de corte de 12 (doze) ano para as madeiras leves (brancas) e de 24 (vinte e quatro) anos para as madeiras pesadas, assim como o diâmetro mínimo de colheita para as espécies como assacu (hura crepitans) e sumaúma (Ceiba pentandra), cujo diâmetro mínimo de corte é 100 centímetros (cm), a piranheira (piranhea trifoliata, com diâmetro mínimo de corte 70 cm, o arapari (macrolobium acacifollium), com diâmetro mínimo de 60 cm e o mutamba/icezeiro (Luehea cymulosa), com diâmetro mínimo de 60 cm.
A instrução determina que o diâmetro mínimo de colheita de 50 cm para as espécies não previstas na legislação e estabelece a manutenção  de pelo menos 10 % do número de árvores numa floresta.
Curiosidades
Entre as espécies mais antigas encontradas em áreas das várzeas e terra firme, estão o arapari, árvore da familia fabaceae.
Outras espécies,  como o tauari vermelho e a piranheira, também tem árvores com mais de 500 anos. A piranheira é uma espécie comercial da várzea, usado para construção de casa, postes, esteios, resistente. Há exemplares de Tauari vermelho na Reserva Ducke.
Um dado interessante é a comparação do sistema de crescimento das árvores nas águas brancas do Solimões, ricas em nutrientes, e nas pretas, pobres nesse aspecto. Há, segundo o pesquisador diferenças nas idades e nos incrementos anuais.
Na várzea, as árvores têm idade mais elevada, assim como maior tamanho. Isso é um dado importante para o manejo florestal. (A Crítica)

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