Investigação da Polícia Federal indica a quadrilha suspeita de lavagem
de dinheiro e desvio de recursos de fundo de pensão buscou negócio com o
governo do Pará. A quadrilha mirava em políticos que ocupam altos
cargos públicos.
Os integrantes do baixo escalão de prefeituras e governos eram tratados
como "peões" e explicitamente desprezados pelo grupo, que oferecia
investimentos em fundos suspeitos.
"Sentar com peão não dá", diz o doleiro Fayed Traboulsi, um dos
suspeitos de comandar o esquema, numa conversa gravada pela PF em
dezembro passado. No diálogo, ele reclama que a reunião inicialmente
prevista com o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), e o
vice-governador, Helenilson Pontes, fora remarcada e seria com o chefe
de gabinete de um secretário do governo.
"Não resolve absolutamente nada. Quem resolve e o GOV ou o VICE GOV. Só
eles...", diz trecho do diálogo transcrito pela PF. Nessa conversa,
Fayed pede para cancelar o encontro no Pará diante da perspectiva de
"fazer reunião com o sub do sub-chefe".
O governo do Pará, por meio da assessoria, nega qualquer encontro entre
representantes do governo e integrantes da quadrilha investigada como
Fayed, Luciene Hoepers e Carlos Eduardo Lemos. "Não foi tomada nenhuma
decisão uma vez que não houve nenhuma reunião", diz, informando ainda
que a empresa usada pelo grupo nunca foi contratada.
A PF não informa se o encontro ocorreu. Segundo os investigadores, coube
a Alline Olivier tentar marcar a reunião com o governador do Pará. Ela
era uma das lobistas do esquema e um dos principais contatos da
"pastinha" Luciane Hoepers que revelou à Folha que há outros políticos ligados ao esquema.
Sobre o Pará, contudo, Luciane disse que desconhece qualquer contrato
firmado com o governo e que não participou de nenhuma reunião.
No entanto, relatório da PF diz que "uma sequência de diálogos travados
entre Alline e Ezaquiel entre os dias 07 a 11 de dezembro de 2012 indica
que ambos intermediaram uma reunião entre os membros da organização
criminosa, in casu, LU e DUDU, possivelmente com o Governador, o Vice e o
Presidente do instituto de previdência dos servidores do estado do
Pará".
O Ministério Público está disposto a pedir o desmembramento do inquérito
para apurar a participação de outros políticos no esquema, entre eles
autoridades com foro privilegiado. Para a PF, o grupo movimentou em 18
meses cerca de R$ 300 milhões.
A defesa de Fayed, que ainda está preso no presídio da Papuda, em
Brasília, afirma que ele nega qualquer contato com autoridades. Segundo
os advogados do doleiro, ele não fazia a ponte entre a empresa de
investimentos e políticos, apesar de considerar "normal" a captação de
interessados em investir nos fundos oferecidos pelo grupo.
FERNANDA ODILLA
MATHEUS LEITÃO
DE BRASÍLIA - FOLHA DE SÃO PAULO
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