A cobra engole uma macaca fêmea adulta de 4 quilos |
O ataque foi registrado pela mestranda em zoologia Erika Patrícia Quintino durante sua pesquisa de campo sobre o comportamento do bugio-de-Purús (Alouatta puruensis), espécie que só existe na América Latina e ainda não foi descrita em nenhum trabalho científico sistemático. O episódio histórico para a primatologia mundial foi fotografado e filmado por Erika em um fragmento de floresta com 2,5 hectares no município de Rolim de Moura. A estudante da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) não esperava que fosse presenciar a ação.
A pesquisadora descreve que seguia os bugios havia aproximadamente 15 dias, observando seus hábitos, quando flagrou o ataque. "Eu ia seguindo eles aonde fossem, passava o dia inteiro com eles: saía cedinho e acompanha até tarde, na hora de dormirem. No outro dia, voltava de manhã e já sabia onde estavam, porque tinha visto onde eles foram dormir à noite. Eu estava habituando o grupo de bugios até eles se acostumarem comigo."
Quando já havia adaptado sua rotina à dos macacos, Erika
testemunhou a ação e fez o registro inédito. "Uma das fêmeas desceu
sozinha para uma vegetação um pouco mais baixa, mas eu estava cuidando
do restante do grupo. Foi então que ouvi o grito e fui ver o que era. Eu
estava sempre com a câmera ao lado, então comecei a fotografar e
filmar", relata a bióloga.
Ataques de serpentes a macacos já haviam sido descritos
pela ciência, de acordo com pesquisadores, porém até então não havia
registro de um animal de grande porte sendo predado por uma jiboia (Boa constrictor)
- ou qualquer outra espécie de cobra -, ainda mais em cima de uma
árvore. O orientador de Erika, Júlio César Bicca-Marques, descreve que
leu a respeito de ataques de aves-de-rapina, como a harpia, em árvores e
sobre predação de macacos-prego por serpentes no chão, não em
um ambiente arbóreo.
"Existia uma confiança no meio acadêmico de que esses
macacos não seriam vulneráveis a serpentes, mas flagramos
um dos maiores macacos das Américas sendo predado. Agora acreditamos
que, em áreas mais conservadas, esse tipo de ataque é mais comum do que
imaginávamos", relata o primatólogo. Ele exalta o processo de habituação
vivido pela bióloga ao longo de sua pesquisa como fator fundamental
para o registro. "A própria presença do pesquisador afugenta os
predadores - então onças e outro bichos que subiriam em árvore não
chegam nem perto. O predador foge do humano, e isso diminui a nossa
chance de ver o caso."
"Para se ter um registro fiel do que os bichos fazem, eles não podem estranhar a presença (do pesquisador)
ali. Interações como essa provavelmente não são tão incomuns, mas são
difíceis de se observar", afirmou ele. "A macaca deu azar, mas a
pesquisadora deu sorte de presenciar algo tão raro",
resume Bicca-Marques.
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