A índia com as duas crianças |
Imagens
raras, filmadas no interior da Amazônia, mostram cenas inéditas de uma das
últimas tribos do mundo que ainda vivem completamente isoladas da civilização.
Para a
surpresa dos sertanistas que fizeram as imagens, os índios surgem de repente no
meio da mata. Eles carregam arcos e flechas e andam nus como os antepassados. O
grupo formado por nove índios faz parte de uma tribo que vive isolada na
floresta e foge de qualquer contato com o homem branco.
Eles
foram avistados no momento em que caminhavam de uma aldeia para a outra. Os
homens são guerreiros. As mulheres levam o que recolheram na floresta e os
filhos.
Uma índia
aparece com duas crianças. Congelando a imagem é possível ver a cabeça e o
braço da menor. A outra está pendurada nas costas. É ela que nota a presença do
funcionário da Funai e dá o alarme.
Este foi
o momento de maior tensão no contato. Um dos guerreiros volta para ver o que
tinha acontecido. Ele fica escondido atrás da folhagem e observa os intrusos.
Quando se certifica de que não há perigo, desaparece com todo o grupo no meio
da floresta.
Para
entender o que os índios disseram, nossa equipe pediu ajuda a uma professora da
Universidade de Brasília. Ana Suely Arruda Cabral é uma das maiores
especialistas do mundo em línguas indígenas. “Eu estou pegando palavras. Eles
estão em uma conversa e quando a mulher fala em “dupi” e ele fala em “buta”,
que é lugar para esperar caça. Eles estão procurando algum lugar onde eles vão
parar para pernoitar e, de repente, alguám fala no “mbutá”, que é o andaime
onde eles esperam a caça na árvore. Eles preparam esse andaime para esperar a
caça à noite”, explica a linguista da UnB.
Ela
também analisou a conversa entre os índios no momento em que notaram a presença
de estranhos na floresta. “Quando a criancinha que está no dorso na mãe, ela se
apavora e grita “tapuim”, “tem inimigo”. A mãe olhando para trás grita “atzé”,
“vamos”.
A
professora explica que a língua Tupi-Kawahiva é comum a várias tribos, mas como
esse grupo sempre viveu isolado fala de uma maneira própria.
Quem
registrou as imagens inéditas foi o sertanista Jair Candor. Ele é funcionário
da Funai e há mais de 20 anos tem a missão de monitorar e proteger os
kawahiva, sem forçar o contato com a tribo. “A gente não estava ali para
encontrar com eles. A gente estava para verificar algumas invasões no limite da
terra”.
(Foto:
Arte TV Globo)
A área
onde os índios estão isolados é duas vezes e meia maior do que a cidade de São
Paulo. Ela fica no coração da floresta, na divisa dos estados de Mato
Grosso e Amazonas. A cidade mais próxima está a 150
quilômetros de distância. Esse território já foi interditado pela Justiça e só
quem tem autorização da Funai pode entrar.
Até
conseguir filmar os kawahiva, os sertanistas só tinham indícios da existência
deles. Durante duas décadas, fizeram dezenas de expedições na região,
encontraram vários acampamentos provisórios na mata e localizaram muitos
objetos produzidos pelos índios. Os kawahiva não praticam a agricultura e são nômades.
Quando a caça some, mudam de acampamento. Por isso precisam de um território
grande.
Eles
vivem no que chamam de tapiri, que é uma habitação improvisada, coberta com
folhas. Os índios fazem redes com casca de árvore. Tem uma roca primitiva, para
fazer o barbante usado na fabricação de flechas. No tapiri, onde vivia apenas
um índio, os sertanistas fizeram uma descoberta. “Hoje a gente tem vestígio de
duas pessoa, são três esteiras, onde dormiu duas pessoas, talvez até três, o
casal e o filho. Aconteceu um casamento aí, a família está crescendo, é bom”,
diz Jair Candor.
O futuro
dos kawahiva está ameaçado pela proximidade da civilização. Os sertanistas
encontraram garrafas pet em um acampamento provisório que fica na beira de um
rio. Na outra margem começa uma fazenda. “A qualquer momento, podem sair para a
fazenda. Se isso acontecer, camarada, a gente vai ter de se preparar, porque
vai vir bomba”, diz o sertanista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário