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O casarão "sede" da Ford: Abandonado e saqueado |
Tecmundo/Por Luccas Monteiro
Em meio a cerca de 300 mil seringueiras, na Amazônia, é possível
encontrar ruínas que parecem ter saído dos subúrbios dos Estados Unidos,
com casas pré-fabricadas, cinemas, hospitais e escolas. E, de certa
forma, foi isso que aconteceu: no final da década de 20, Henry Ford
tentou construir no Brasil uma espécie de Detroit, cidade
norte-americana cuja principal indústria é a automobilística.
Para isso, Ford contava com um latifúndio de 1 milhão de hectares nas
margens do rio Tapajós, a cerca de um dia e meio de viagem de barco de
Santarém, no Pará. A “cidade” planejada pelo empresário deveria abrigar
milhares de trabalhadores brasileiros e estrangeiros, além de servir
como fonte de látex para a produção mundial da companhia. Porém, envolto
em muitas dificuldades, o projeto acabou falhando.
Terreno inapropriado e cultura conflitante
O projeto da Fordlândia começou errado. Sem saber que poderia
negociar terras diretamente com o governo brasileiro — e consegui-las
gratuitamente —, Henry Ford acabou comprando a propriedade de um
cafeicultor por cerca de R$ 125 mil. Porém, havia um problema: a terra,
montanhosa demais, também era inapropriada para o cultivo de
seringueira.
Mesmo assim, a cidade começou a ser erguida em meio à floresta e o
projeto foi sendo estruturado. Madeira, telhas e até mesmo as mudas das
seringueiras foram trazidas dos EUA de navio. Pessoas do Brasil todo
seguiam para o norte do país na expectativa de um emprego na Fordlândia,
mas nem todos eram aceitos, visto que o exame médico era bastante
rigoroso. Mesmo assim, muita gente sem experiência foi contratada, o que
causou uma espécie de debilidade de mão de obra.
A cidade possuía vilas para administradores, com campo de golfe,
cinema e piscina, e para funcionários, com estruturas mais modestas.
Além disso, ali também ficava um dos melhores hospitais da região e,
como se não bastasse, o salário era pago quinzenalmente e em dinheiro,
algo muito bom para a época.
Mas como dizem, dinheiro não é tudo. Com o passar do tempo, os
funcionários começaram a ficar insatisfeitos com regras que, na época,
eram muito novas para os trabalhadores, como relógios de ponto, sirenes e
regras de comportamento que desmotivavam a permanência no local. Isso
gerou uma rotatividade muito grande de funcionários.
Praga e mudança de mercado
E apesar de um ou outro momento que indicaram um possível sucesso na
empreitada de Ford, o projeto acabou fracassando. Além dos problemas já
mencionados, as seringueiras foram afetadas por um fungo que se espalhou
rapidamente.
Na floresta, as seringueiras existem com mais espaçamento entre elas
e, portanto, as doenças não se espalham com essa facilidade. Mas os
americanos plantaram as árvores muito próximas uma das outras, de
maneira semelhante ao plantio de eucalipto.
Além disso, o aparecimento da
borracha sintética também atrapalhou os planos da empresa, já que
grandes potências começaram a trocar a borracha natural por essa
variante. No total, Ford teria gasto cerca de meio bilhão de reais no
projeto, que no fim acabou sendo vendido ao governo brasileiro por US$
250 mil (cerca de R$ 574 mil).
Hoje, as instalações se encontram abandonadas e sofrem saques e
desmanches constantes enquanto aguardam o tombamento pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
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