Visualizações de páginas da semana passada

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Bióloga faz registro inédito de ataque de jiboia a macaco na Amazônia

A cobra engole uma macaca fêmea adulta de 4 quilos 
O primeiro ataque de uma serpente a um bugio de que se tem registro na ciência foi feito por uma bióloga brasileira na Amazônia. O caso inédito, descrito em um artigo recém-aprovado pela revista Primates, tem atraído interesse de especialistas internacionais. O flagrante - que primatólogos acreditam acontecer com regularidade na natureza, apesar de nunca antes ter sido fotografado - apenas foi possível porque a pesquisadora havia habituado os animais à sua presença na região, uma área florestal em Rondônia, assim permitindo seu comportamento natural. O macaco, uma fêmea adulta com pelo menos quatro quilos, foi devorado por uma jiboia em cima de uma árvore a 7,5 metros de altura.
O ataque foi registrado pela mestranda em zoologia Erika Patrícia Quintino durante sua pesquisa de campo sobre o comportamento do bugio-de-Purús (Alouatta puruensis), espécie que só existe na América Latina e ainda não foi descrita em nenhum trabalho científico sistemático. O episódio histórico para a primatologia mundial foi fotografado e filmado por Erika em um fragmento de floresta com 2,5 hectares no município de Rolim de Moura. A estudante da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) não esperava que fosse presenciar a ação.
A pesquisadora descreve que seguia os bugios havia aproximadamente 15 dias, observando seus hábitos, quando flagrou o ataque. "Eu ia seguindo eles aonde fossem, passava o dia inteiro com eles: saía cedinho e acompanha até tarde, na hora de dormirem. No outro dia, voltava de manhã e já sabia onde estavam, porque tinha visto onde eles foram dormir à noite. Eu estava habituando o grupo de bugios até eles se acostumarem comigo."
Quando já havia adaptado sua rotina à dos macacos, Erika testemunhou a ação e fez o registro inédito. "Uma das fêmeas desceu sozinha para uma vegetação um pouco mais baixa, mas eu estava cuidando do restante do grupo. Foi então que ouvi o grito e fui ver o que era. Eu estava sempre com a câmera ao lado, então comecei a fotografar e filmar", relata a bióloga.

Ataques de serpentes a macacos já haviam sido descritos pela ciência, de acordo com pesquisadores, porém até então não havia registro de um animal de grande porte sendo predado por uma jiboia (Boa constrictor) - ou qualquer outra espécie de cobra -, ainda mais em cima de uma árvore. O orientador de Erika, Júlio César Bicca-Marques, descreve que leu a respeito de ataques de aves-de-rapina, como a harpia, em árvores e sobre predação de macacos-prego por serpentes no chão, não em um ambiente arbóreo.

"Existia uma confiança no meio acadêmico de que esses macacos não seriam vulneráveis a serpentes, mas flagramos um dos maiores macacos das Américas sendo predado. Agora acreditamos que, em áreas mais conservadas, esse tipo de ataque é mais comum do que imaginávamos", relata o primatólogo. Ele exalta o processo de habituação vivido pela bióloga ao longo de sua pesquisa como fator fundamental para o registro. "A própria presença do pesquisador afugenta os predadores - então onças e outro bichos que subiriam em árvore não chegam nem perto. O predador foge do humano, e isso diminui a nossa chance de ver o caso."

"Para se ter um registro fiel do que os bichos fazem, eles não podem estranhar a presença (do pesquisador) ali. Interações como essa provavelmente não são tão incomuns, mas são difíceis de se observar", afirmou ele. "A macaca deu azar, mas a pesquisadora deu sorte de presenciar algo tão raro", resume Bicca-Marques.

Nenhum comentário:

Postar um comentário