O dia nem amanheceu e já é hora de preparar nova decolagem. Desta vez, às margens do Rio Tocantins, no Pará. Mais uma etapa da aventura de Lu Marini. O primeiro piloto a sobrevoar a transamazônica inteira num parapente a motor. A aventura chegou a Marabá, metade do caminho. Balanço da viagem até
agora: quase 300 litros de gasolina, um paramotor foi quebrado e duas
hélices destruídas.
O desgaste é normal em uma aventura tão longa, que finalmente começa a
ter a cara que o Lu imaginou. É no voo para Marabá que a pista asfaltada
vira chão de terra. “Meu pouso tá bem do lado dela. Os carros passando, levantando poeira, essa é a transamazônica que eu imaginava”, diz Lu.
Mas em torno dela é uma Amazônia diferente da que imaginamos. Quase não
existe floresta nativa aqui. A gente pode viajar por horas sem
encontrar uma única castanheira.
"Com o advento das estradas no fim da década de 60 e início da de 70,
começou a extração madeireira. E paralelamente as florestas foram sendo
substituídas por capim, pastagens e deu origem a um outro setor
econômico que é o do gado", conta o biólogo Noé Von Atzingen.
Na saída de Marabá, uma imagem chama a atenção do Lu Marini. “Aqui
embaixo de mim, muitas siderúrgicas fechadas, abandonadas. Parece uma
cidade fantasma”, diz Lu.
São siderúrgicas que produziam ferro-gusa, uma das etapas da fabricação de aço. Segundo o Ibama, elas usavam carvão ilegal.
“Elas estavam utilizando carvão ilegal, proveniente de extrações
ilegais, no seu processo produtivo. Danificando, degradando a floresta
por conta disso”, diz o coordenador do Ibama Jair Schimitt.
As fábricas não se adaptaram à legislação ambiental. Na última operação
do Ibama, em 2011, as multas aplicadas chegaram a 200 milhões de reais.
Das 10 empresas do Distrito Industrial de Marabá, nove fecharam as
portas nos últimos anos. O lugar virou um grande cemitério de máquinas e
equipamentos. “Daqui pra frente, só terra e buraqueira. Eu continuo
aqui nesse voo liso e tranquilo. Agora, como será que tá a Daniela lá
embaixo?”, pergunta Lu.
Há trechos sendo asfaltados, 41 anos depois da inauguração da transamazônica.
Em longos trechos sem asfalto, o movimento de caminhões faz uma cortina
de poeira. Mesmo em dia claro, a sensação para o motorista é de estar
dirigindo em dia de neblina.
“Rapaz, a gente anda com vidro levantado, põe um pano no rosto assim, é ruim pra caramba”, diz um caminhoneiro.
Bem acima da nuvem de poeira, o Lu chega a Novo Repartimento.
Morador: Eu vi que o senhor pousou ligeiro demais, eu falei: acabou a gasolina do homem ali, alguma coisa aconteceu.
Lu: É o cansaço, mesmo.
Lu: Tem um cafézinho?
Morador: Tem, tem café, tem leite.
Lu: Vou tomar o café da manhã.
Mas, de uma hora pra outra, o cenário pode mudar. Basta que chova. A transamazônica vira um rio de lama.
"Aí não tem jeito de subir não, escorrega”, diz um motorista.
O Governo Federal diz que vai asfaltar todo o trecho entre Marabá e Altamira.
“De Marabá a Altamira, para ficar 100% asfaltado, inclusive com pontes
prontas e construídas, para fazer realmente um bom passeio pela rodovia
sem nenhum percalço, nós precisamos de três anos”, diz o diretor do
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Dnit, Jorge
Fraxe.
Depois da chuva, Lu Marini continua a sobrevoar a transamazônica. A aventura continua!
(G1)
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