A médica pretende atuar no Programa Mais Médico |
Nos seis anos de faculdade, Wilses
conta que superou desafios, teve que conciliar estudo, trabalho e
família. No dia da colação, um dia antes do seu aniversário, ela recebeu
o diploma das mãos do cacique da sua aldeia, Francisco Clodovaldo
Tapajós, que também é irmão dela. A família dela, que é do Pará, veio
para o Tocantins para comemorar a conquista.
Na
década de 90, Wilses já havia se formado em enfermagem pela
Universidade Estadual do Pará. Atuou na profissão e se mudou para
Araguaína, norte do Tocantins, depois de ser aprovada em concurso
público para a função, em 1998. Nove anos depois, se mudou para Palmas,
depois de passar no vestibular do curso de medicina da UFT. A
universidade foi a primeira da região norte a adotar o sistema de cotas
para indígenas, em 2006.
Wilses,
que fez o ensino primário em uma escola pública na aldeia Caridade,
localizada no território indígena Cobra Grande, em Santarém (PA), diz
que não teve dificuldades com a língua portuguesa ao entrar na
universidade. A grande dificuldade foi aprender o conteúdo do curso. "Eu
'apanhei' na parte básica de conteúdo de biologia. Todos os colegas já
tinham conhecimento sobre o assunto porque estudaram em escolas boas.
Mas, eu não. Houve momentos que cheguei a pensar: Será que estou no
lugar certo?", desabafa.
A
médica conta que conseguiu se adaptar com a ajuda dos colegas já que os
seis anos de faculdade não foram fáceis. Wilses passava o dia inteiro
na universidade e à noite fazia plantão em um hospital público de
Palmas.
Agora formada, ela olha para trás com orgulho e diz que quer usar a
medicina para contribuir com o povo indígena. "O meu desejo de
contribuir com a saúde indígena é grande. Vejo alguns indígenas que
entram na universidade e se perdem na multidão. Depois de formados não
contribuem com seus povos."
Wilses diz que vai se inscrever no Programa Mais Médicos do governo
federal. O desejo dela é ser selecionada para o Tocantins e atuar em um
Distrito Sanitário Especial Indígena. "Quanto ao programa tenho duas
visões. Só médicos não resolvem o problema, precisamos ter apoio e
infraestrutura. Mas acredito que é bom para o médico conhecer a
realidade do interior, adquirir experiência. Não vejo como um castigo",
finaliza a índia.
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